[Treinos] Luka de Wyvern

A história que vou narrar agora é referente a uma de minhas antigas aventuras, antes de tornar-me Espectro, e antes mesmo de ganhar o codinome de “Dragão Negro”, aliás, ela esclarecerá o motivo desde anteriormente citado.

Num inverno literalmente congelante, eu passava a estádia em um vilarejo ao norte Europeu, havia sido muito bem recebido pelo líder local, o que tornava-o extremamente suspeito, afinal, em tempos de crises não se abriga um viajante sem segundas intenções por trás da “bondade”. Certa noite, fui chamado para acompanhar-lhe em um jantar de negócios, e prezando pelos bons modos, fui, não fazendo ideia do que me esperava. Depois de minutos observando-o comer como um legítimo porco, fui agraciado com suas palavras, finalmente revelando o motivo por ter me trazido aquele fim de mundo. – Então, Luka... Não se se já ouvir falar sobre isso, porém esse vilarejo passa por dificuldades, nossos “vizinhos” monopolizaram o comércio, acabando com as fontes de renda local. – Notando o rumo que a conversa estava tomando, bravamente o interrompi. – O que preciso fazer? – O homem sujo sorriu maliciosamente, provavelmente feliz por ver que estávamos na mesma sintonia, e logo prosseguiu com a encomenda. – Bem, seria de grande ajuda se... O senhor pudesse... Fazer todos aqueles vermes virarem pó. – Suspirei fundo por um instante, pensando no custo-beneficio de se destruir uma vila inteira, e se eu realmente tinha capacidade física para realizar tal feito. – Meu preço não será barato, não quero seu ouro, contudo desejo uma propriedade em suas terras, e alimentos. – Fui surpreendido por uma gargalhada debochada. – Ora , considera isso um preço caro ? Parece bem razoável pra mim, estamos de acordo! Quero que termine o trabalho o quanto antes, destrua tudo! – Fiquei particularmente irritado por tamanha arrogância vinda de um mortal tão fraco, mas não podia reclamar, não antes de receber meus bens em troca. [...]

Já havia passado cerca de uma semana desde aquele “jantar de negócios” com o “digníssimo e honrado chefe de estado”. Por mais que na maioria das vezes eu tinha a tendência a agir rapidamente e sem receio, o caso agora era outro, não estávamos mais falando de um assassinato ou de uma cobrança qualquer, a missão da vez parecia um pouco mais complexa, não em questões de dilemas morais, mas sim em questão de poder, pois para exterminar um vilarejo inteiro eu precisaria de energia, sagacidade e também de velocidade; afinal, dar tempo às autoridades do Santuário para se locomoverem até mim estava fora de cogitação.

Independente de estar pronto ou não, lá estava eu, no alto da torre do relógio da cidade que seria vítima do meu Cosmo imensurável; na verdade pretendia esperar mais alguns dias, entretanto não foi possível, considerando que sofria pressão hora pós hora para completar logo a tarefa. Tudo estava calmo e pacato demais, os moradores não faziam ideia do que lhes aguardava. Eu fechei meus olhos, respirando de forma mais avida e intensa; usando uma técnica antiga passei a controlar minha energia fazendo-a fluir para fora de minha boca, e então... Cuspi uma rajada de poder que ecoou como um rugido de uma fera mitológica, o rugido de um Dragão!

Assim que entrou em contato com o solo, causou uma explosão triunfal, alastrando poeiras e destroços em todo redor. Ignorei os gritos e pedidos de ajuda, não tinha tempo a perder, novamente soltei mais uma, duas, três e quatro rajadas! Aquela altura nenhuma outra construção ainda permanecia de pé, evitei alvos móveis como Humanos, porque logicamente era bem mais simples por o lugar abaixo, sem mortes desnecessárias. Por fim, quando o dano requerido já tinha sido alcançado e não me restava mais fôlego, saltei em direção aos céus, usando a estrutura da torre como impulso (e evidentemente fazendo-a desabar no mesmo instante). Enquanto ainda me mantinha aéreo, notei que os sobreviventes me observavam, e usando de minha audição apurada, pude ouvir certas críticas lisonjeiras. – É ele! É ele! A criatura que nos atacou! Ele tem pacto com o senhor das trevas! – De fato não se enganaram, cedo ou tarde, qualquer coisa que fazia de mim um homem foi comprado: Minha honra, coragem, astucia, e finalmente, minha alma. [...]

Depois do incidente com o vilarejo fiquei escondido na Floresta durante dois meses, mal tive tempo de ir buscar minha recompensa; Modéstia parte existiam no mínimo onze Cavaleiros a minha procura, e de acordo com os boatos e sussurros, um dos mesmos era da patente “Ouro”. Apesar de sofrer constantemente de excesso de confiança, sequer cogitei em momento algum enfrentar um adversário deste nível, pois naquela época havia um abismo imensurável que diferenciava nossos poderes.

Quando a poeira finalmente abaixou, decidi que era hora de fazer minha “cobrança”, o que não seria um grande problema; depois de dizimar todo um povoado, dificilmente alguém teria a audácia de dever-me um grão de trigo que seja. Ao chegar na vila do “empregador”, me surpreendi com tamanha mudança, as pessoas estampavam no rosto um sorriso de orelha a orelha, mercadores e mais mercadores caminhavam como formigas, buscando e vendendo novos produtos; de fato o tal homem que me contratou realizou uma grande mudança, se desconsiderarmos seus meios maléficos.  – Vim buscar o que me prometeu. – Disse de modo seco ao entrar de supetão na casa daquele indivíduo mesquinho e arrogante, admito que ainda não superara a atitude debochada de nosso primeiro encontro. Fixando os olhos em mim, arregalou-os instantaneamente, devia achar que estivesse morto ou levado sob custódia. – Ora, se não é o grande Senhor Luka! Sinceramente, a última pessoa que achei que passaria por aquela porta era o Senhor! – Simplesmente ignorei-o, mantendo a postura rígida. - ... – Ele engoliu seco, sabia que não tínhamos tempo para atos amigáveis ou qualquer tipo de conversa desnecessária, logo tratou de ir até o porão, posteriormente trazendo consigo um enorme saco com grãos e frutas, e outro com muita carne e sal por cima conservando-a. – Aqui está, quanto a propriedade, poderá encontra-la a leste daqui, cerca de quarenta e cinco minutos de distância... Ou talvez quinze para o Senhor; receio que não precisará de chaves. – Tudo que saia de seus lábios infelizes soava cômico e excessivamente estúpido, eu poderia simplesmente ter ido embora, como qualquer bom serviçal faria, entretanto isso não condizia com minha personalidade repulsiva. – Você é um humano desprezível... – Monotonamente fui aproximando-me, novamente vendo aquelas olhos arregalando-se. – Oque ? Eu cumpri a minha parte do trato! – Segurei-o pelo pescoço elevando-o em relação ao chão, pressionando sua garganta de forma que não pudesse mais pronunciar uma única palavra. – Uma criatura tão frágil e fraca não deveria existir, e eu, como o inabalável Dragão Negro vou te amaldiçoar por cada segundo que me fez perder com suas futilidades. – O que aconteceu posteriormente a este evento é gélido demais para ser contado, enfim, aquele verme ainda vive; sem as pernas, os braços, e também sem a maldita língua; "Proibido emoções cálidas, angústias fúteis, fantasias mórbidas e memórias inúteis".

Como já esclareci por diversas vezes, nem sempre fui portador de um Cosmo tão avassalador, pelo contrário, durante boa parte de minha vida humana, eu sequer derrotaria um Cavaleiro de Prata; pois bem, contarei agora sobre um conflito particularmente interessante, entre mim, e o “nobre” Cavaleiro de Ouro de Áries, nesta época, conhecido como Ramuhd.

Tudo começou na Antiga Grécia, um ferreiro local havia entrado em contato comigo, através de um conhecido em comum, alegando ter um trabalho “relativamente fácil” e que pagaria uma quantia generosa. Os tempos estavam difíceis, e apesar do meu orgulho, não poderia recusar trabalho se não quisesse morrer de fome, ou voltar a viver fora da sociedade, isolado na floresta como um animal selvagem. Depois de uma longa viagem, finalmente nos encontramos; o mesmo morava numa residência comum, porém para os padrões da vila poderia ser considerado “afortunado”. – Sente, por favor, vou lhe passar os detalhes da missão, e quanto ao preço, se não se importar negociaremos depois que a tiver cumprido, logo entendera o por quê. – Diferente da maioria dos outros clientes, este era sério e direto ao ponto, tendo uma tensão estampada em seu semblante; sentei-me e acenei com a cabeça de forma afirmativa, esperando pelos detalhes. – Preciso que vá a Jamiel e roube uma Armadura de Bronze, lá existem várias que estão inativas ou sendo concertadas, se tudo correr bem você pode pegar e sair sem notarem sua presença, contudo existe uma pequena chance de se deparar com um homem peculiar, conhecido como “o maior ferreiro de todos”, e não se engane pelo título ridículo, ele não é um inimigo que possa enfrentar. – Não fui capaz de conter uma expressão de ofendido, entretanto se aquele individuo sabendo quem sou soltou tais palavras, eu deveria relevar. – Entendo, acho que vale o risco, voltarei o mais breve possível. – Levantei-me de forma lisonjeira e apreensiva, ainda refletindo sobre que tipo de pessoa seria aquele que guardava as Armaduras, enquanto saia do estabelecimento, fui surpreendido.-  Todo cuidado é pouco. [...]